sexta-feira, 17 de abril de 2015

Uma noite de futebol na roça

A tabela já previa: a Portuguesa enfrentaria o Duque de Caxias quarta feira à noite pela penúltima rodada da Taça Santos Dummont. Um jogo à noite. Para nós é um chamariz, já que na Segunda Divisão é bem difícil de encontrarmos estádios com estrutura para tal evento. Juntam-se os guerreiros da Brava Raça para organizar a caravana de uma partida que todos sabiam que seria especial, mas ninguém sabia que seria tão especial como foi.


Aos poucos, todos chegam no clube e o primeiro tempero: o ônibus quebrou. Desistir? Tá maluco!? Solução: uma kombi velhinha, daquelas guerreiras. Quantos cabem aí? Vale colocar no porta mala? Uns 12? Sentados no chão dá mais hein!? Ok. Vão cinco em um carro, o resto vai aí. E quem liga para como se vai ou como se volta? O importante é estar lá, nos nossos 90 minutos de vida. 

Pé na estrada e chegamos em Xerém. Logo procuramos por um bar daqueles típicos de uma partida de futebol. O mais "pé sujo" possível. Cerveja barata e gente alegre. Juntam-se todos da Brava Raça e damos àquele local parado, acostumado com uma rotina comum (mesmo com um estádio de futebol na vizinhança), vida e movimentação. Quem passa na rua não entende. "Vai ter jogo de futebol?", perguntam alguns pedestres desavisados. Alento e cerveja foi o nosso aquecimento. "Hoje vai ser foda" era o comentário mais falado.

Arquibancada colada no gramado, armamos nosso curral. A bola rola e nossos 90 minutos de vida começam a ser contados. Uma voz puxa a outra. "Vamos lá! Não para de cantar! Não to ouvindo!". Cada um ali jogo junto com Alexandre Carioca e Márcio Gomes (depois Silvano) para suportar a pressão inicial dos donos da casa. Temos que ser mais um em campo. Pressão deles. E é nos pés de Maicon Assis (ou Messi Assis, ou Mito Assis) que vamos saindo devagar, ainda tímidos para mostrar quem que vai mandar na partida. No nosso camisa 7, uma joelhada nas costas que foi peça chave para a virada de mesa. Um a menos para eles. Agora são 12 contra 10. Sim. 12. A Brava Raça agora jogava junto com Mago Assis e Lincoln no ataque.

"Olê Lusa! Aqui está sua gente. Que te empurra para frente....." GOOOL! Bruno Andrade encobriu o goleiro para abrir o placar. Euforia! Não dava para acreditar muito bem. Quem torce para time de menor visibilidade na mída sabe como é difícil acreditar que as coisas realmente vão dar certo e se desenhar em uma forma perfeita. O gol veio e trouxe consigo o domínio Lusitano em mares Caxienses. 

15 minutos de intervalo. Um encontro amistoso entre as torcidas. Um comentário "Cara, para cantar do jeito que vocês cantam só estando louco mesmo". Um elogio desse só dá mais gás para continuar empurrando o time. 

Bola rola para os últimos 45'. 45 minutos que se arrastam para o fim de uma noite perfeita. 

"O gol do Bruno podia ter sido nesse gol aqui para ele vir correndo pra gente né?" comentou um hincha lusitano.

Não demora muito e Allan tratou de atender ao desejo da torcida. De penalti, o artilheiro marcou o segundo e correu em nossa direção junto com o resto do esquadrão como quem dissesse "Vocês fizeram esse gol. Estamos juntos!". Na verdade, ele falou muitas coisas para nós ali, mas a emoção e a euforia não nos deixou decifrar a mensagem. Mal sabe ele a alegria que nos deu naquela noite por correr para comemorar o gol conosco.
Reconhecimento e união. Juntos rumo à Série A! (Foto: Leonardo Santos/Ascom Portuguesa Rio)

Placar feito, partida dominada, nem o juiz queria postergar o final mágico de uma noite na roça. Entrando ao som de "A Banda Ta Louca", os jogadores vão para o vestiário saudando a torcida que tanto lutou ao lado deles por aqueles 3 pontos. 

E nesse jogo consolidamos uma sintonia que não tínhamos com um time da Portuguesa desde o histórico elenco de 2012. O gol, a comemoração junto com a gente consolidou o elo entre os comandados de Luiz Antônio e os loucos da bancada. Nós temos orgulho de sermos representados por eles. Nós temos orgulho de torcer por eles. Nós temos certeza que eles nos colocarão na Série A. 

Todos de volta para o carro e para a Kombi. Alegria no rosto. Sentimento de dever cumprido. 

E até hoje os moradores de Xerém estão se perguntando quem eram aqueles loucos que deram vida para uma noite de futebol na roça.

Dale LUSA!